Hoje eu acordei dois minutos antes do despertador tocar.
Coisa que não acontecia há muito tempo. Acho que dormi pouco mais de quatro
horas seguidas, ontem o dia não foi tão bom. Senti sua falta. Mas pela primeira
vez, resisti aos apelos da minha carência e não te liguei. Não que eu seja
orgulhoso, mas eu tenho sentido, ainda mais, falta de ser procurado. Viver em
função dos outros é tornar a alma míope. De tanto seguir sombras e acompanhar
outros caminhos, não consigo mais enxergar o futuro. Mas não falo de um futuro
planejado ou tão meramente de algo que está por vir, mas de promessas que fiz a
mim mesmo.
Estas sim, merecem toda a minha preocupação. Já você, que
sempre faz tanta questão de esbanjar independência, talvez mereça um descanso
dos meus olhares e das minhas bajulações. Que mesmo sempre sinceras nunca a
satisfazem. Ou se satisfazem, eu nunca soube. E essa é outra questão que
teremos que discutir. Qual seu problema em se abrir? Mesmo conhecendo esse
jeito escancaradamente desinibida, sei que não passa de um quarto escuro
trancado por dentro. E eu já bati na porta tantas vezes…
Não sei se já percebeu, mas eu parei com as brincadeiras.
Parei com os diminutivos, com a insistência. Tornei-me novo e também não sei
até que ponto isso é bom. Você vai me ligar, com a mesma voz cansada, com a
mesma conversa, com os mesmo dramas, e isso me afetará de modo tão superficial
que qualquer reação passará despercebida. Você nunca se ligou em detalhes. Essa
era uma das suas características que me encantava. Percebeu? Encant-a-v-a. Como
dói ter a consciência de que o meu amor está se esvaindo e eu não faço a mínima
questão de recuperá-lo.
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